Considerada a brasileira mais rápida da atualidade, ela tem Vitória já em seu nome e encontrou no esporte um caminho para suas conquistas. Nascida em uma família de muitas mulheres, ela tem sete irmãs (uma delas já falecida) e começou no atletismo aos 14 anos, em 2010, atendendo ao convite de uma professora de Educação Física. Três anos depois, a atleta, que corre os 100 e os 200 metros, já participava de uma competição internacional, o Mundial Juvenil de Atletismo, na Ucrânia, e no ano seguinte, do Mundial Júnior, em Eugene, nos Estados Unidos. O primeiro Pan foi em 2015, em Toronto, quando não subiu ao pódio. Nos jogos do Rio – 2016, não conseguiu chegar às semifinais dos 200 m. No Mundial de 2017, em Londres, foi às semifinais e participou da final do revezamento 4x100m. As brasileiras conquistaram o ouro no Pan de Lima com o melhor tempo da temporada: 43s04. Vitória Rosa estava no time. O melhor resultado da história do país no revezamento foi o bronze nos Jogos de Pequim – 2008, herdados após doping da equipe russa. A Bélgica recebeu o ouro, a prata ficou com a Nigéria e o Brasil, com o terceiro lugar.
O começo de Vitoria Rosa não aconteceu na pista de corrida, mas nas quadras. Antes de ser apresentada ao atletismo, ela jogava handebol. Uma professora da escola em que estudava levou as alunas para brincar na caixa de areia, praticando salto em distância. A menina se destacou. Vitória conta que a professora disse que o atletismo poderia lhe dar muito mais oportunidades do que o handebol. Então, a atleta passou a alternar treinos nas duas modalidades. De manhã, com a orientação da professora, dedicava-se ao handebol. À tarde, ia para pista de atletismo em companhia das irmãs. Foi quando ganhou uma bolsa para estudar numa escola particular. A bolsa estava vinculada à opção pelo atletismo. “Aquele momento era para eu decidir minha vida. Tomava um rumo ou tomava outro. Eu falei: ‘Eu quero’. Me joguei”, disse, durante uma live no Instagram do portal Olimpíada Todo Dia.
Foi nesse mesmo período que o pai sofreu um acidente e a mãe precisou trabalhar para garantir o sustento da família. A família morava em Santa Cruz, um bairro mais distante do centro do Rio de Janeiro, e a mãe de Vitória precisava pegar várias conduções para chegar ao emprego, mas acabava caminhando parte do trajeto, para garantir o dinheiro da passagem para a menina ir à escola. Com o tempo, o pai conseguiu retomar as atividades e a situação econômica melhorou.
Por dois anos, a atleta conciliava os estudos na escola e o Projeto Marinha do Brasil-Odebrecht no Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (Cefan), programa dedicado a revelar talentos para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
Para dar conta dos estudos e da rotina de competições, ela voltou para a escola pública, deixou o salto em distância, chegou a treinar também como barreirista, mas foi nas provas de velocidade que chegou aos melhores resultados. Concluiu o Ensino Médio por meio de um supletivo e passou a se dedicar integralmente ao esporte.
Quando estava na Vila Olímpica nos Jogos de 2016, no Rio, ela conta que foi um momento de alegria e tristeza, porque pensava: “E depois que acabar tudo isso? Para onde eu vou? Como vai ser minha vida?”. Seu treinador na época, Robson Alhadas, recomendou que ela aproveitasse aquele momento, pois todo atleta sonha em participar dos Jogos Olímpicos. Vitória Rosa diz que, por não se ver como uma atleta de alto rendimento, não tinha tido o sonho de estar nas Olimpíadas, mas estava. Seguiu os conselhos do mentor, continuou no esporte e agora está classificada para os Jogos Olímpicos de Tóquio. Vitória Rosa sonha com uma final olímpica nos Jogos de Tóquio, feito inédito para o Brasil. Cleberson Yamada, especialista em atletismo pela Universidade de Leipzig, na Alemanha, disse ao Estado de S.Paulo que Vitoria tem boas chances. “Certamente a Vitória é a mais rápida do país hoje”.
A pedido do jornal, a atleta traçou seu próprio retrato. “Quem é a Vitória Rosa? É uma menina alegre, divertida. Estou sempre na minha, sempre sorridente. O mundo está caindo e estou sorrindo”, brinca. Diante da pergunta “O que significa ser a mulher mais rápida do Brasil?”, ela repete o sorriso. “Eu encaro isso sem pressão. O reconhecimento é prazeroso. As pessoas pedem para tirar fotos e conversar. As pessoas enviam mensagens e dizem que se inspiram em mim. Ao mesmo tempo, eu me inspiro nas pessoas. Eu transmito a Vitória que eu sou”.