Verena Paccola

Sabe aquela frase “o céu é o limite”, que usamos quando queremos dizer que é possível conquistar nossos sonhos? Pois a estudante da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP (Universidade de São Paulo), Verena Paccola, mirou no espaço e foi além. Aos 22 anos, Verena foi premiada pelo ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações pela descoberta de 25 asteroides para a NASA, a agência espacial dos Estados Unidos.

Buscando uma atividade para se distrair um pouco da rotina de estudos para o vestibular, Verena conseguiu acesso a um software usado pela NASA. Depois de passar por um treinamento on-line com cientistas da agência, a estudante passou a receber pacotes de imagens capturadas por um telescópio localizado no Havaí. Verena explica que analisava pacotes de quatro imagens “piscadas” em uma sequência. São como fotos do espaço tiradas com diferença de poucos segundos entre cada uma. Seu papel era perceber se tinha alguma coisa se movendo entre uma imagem e outra.

Quando a estudante notava a presença de algum objeto em movimento, fazia uma análise numérica para identificar se havia um padrão que permitia pensar que se tratava de um asteroide. Então, os relatórios da jovem eram enviados à Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, para a confirmação da descoberta. A descoberta se mostrou ainda mais importante porque um dos asteroides é considerado raro. Isso quer dizer que, por existir uma possibilidade, ainda que muito remota, de colidir com a Terra, o astro passa a ser monitorado pelos cientistas. A NASA ainda estuda a órbita do asteroide para identificar a dimensão do objeto e o risco de colisão com o nosso planeta.

A estudante conta que sempre foi muito curiosa. Apesar de sua área de maior interesse ser a saúde, a jovem lembra que desde pequena gostava de observar o céu com um telescópio. No “dia do brinquedo”, quando as escolas permitem que as crianças levem seus bonecos, bichinhos de pelúcia, carrinhos e jogos, Verena levava um microscópio que ganhou de um parente. Às vezes, vestia um jaleco e brincava com tubos vazios. Depois que cresceu acabou se formando técnica de enfermagem e passou um ano desenvolvendo uma pesquisa na área de neurociência computacional para pessoas com TEA (Transtorno do Espectro do Autismo), no Hospital Albert Einstein, em São Paulo.

A vontade de ser médica a levou, em 2019, ao Canadá, quando foi aceita na University of British Columbia, em que ficou apenas um semestre. Por questões financeiras e também por diferenças nos currículos, resolveu voltar para o Brasil e prestar vestibular para Medicina. No Brasil, o programa Caça-Asteroides, da NASA, tem parceria com o MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações). Por isso, em 9 de dezembro de 2021, Verena recebeu uma medalha do ministério. Entre outros, estavam presentes Patrick Miller, criador do programa Caça-Asteroides, e o ministro Marcos Pontes.

A nossa “caçadora de asteroides” conta que foi criada apenas por mulheres: a mãe, Nathalia, e a avó, Rochele. “As duas são minhas maiores fontes de inspiração, tanto na área da educação, quanto na vida. Tive o privilégio de crescer em meio a livros em uma casa que valoriza muito a educação. Minha mãe ainda fazia faculdade quando me teve, então, eu a via estudando o dia inteiro. Minha avó é professora, sempre a acompanhei em salas de aulas. Mais do que me inspirarem na educação, as duas me inspiraram a seguir meus sonhos. Cresci ouvindo que eu poderia ser o que quisesse, de bailarina a astronauta”, diz Verena.

Na área da ciência, mais especificamente, conta que suas inspirações próximas foram de homens, pelo fato de mulheres na ciência não serem tão reconhecidas e não receberem tanto crédito por suas realizações. Ainda assim, ela cita, entre as cientistas que mais admira, Margaret Hamilton, cientista da computação que desenvolveu o software de voo da Apollo 11 da NASA, Marie Curie, ganhadora de dois prêmios Nobel (de Química e Física) e, na área da saúde e da empatia, como definiu, a alagoana Nise da Silveira, pioneira da terapia ocupacional, que mudou os rumos do tratamento psiquiátrico no Brasil. “Durante toda minha vida, fui inspirada por professoras e, atualmente, trabalhando no laboratório de neurociência da USP. Há grandes mulheres cientistas que me inspiram e me apoiam todos os dias”, acrescenta a estudante.

Para as meninas que sonham em se tornar cientistas, Verena recomenda curiosidade, coragem e empatia. “Primeiro, tenha curiosidade para explorar o mundo. Ser cientista não é questão de idade ou gênero, fazer ciência é simplesmente fazer perguntas sobre o universo e, o mais importante, ir atrás das respostas! Questione-se sobre tudo, sobre como funciona o universo e o porquê de as coisas serem do jeito que são. Sendo curiosa, já ter uma postura de cientista!Além disso, tenha coragem! É necessário ter muita coragem para explorar o mundo, para ocupar seu espaço e para correr atrás dos seus sonhos. Por isso, não tenha medo de sonhar grande, você é totalmente capaz de ser a primeira brasileira a ganhar um Prêmio Nobel ou então a primeira brasileira a ir para o espaço! Seja corajosa para ultrapassar barreiras e determinada para alcançar o que deseja. Por fim, utilize da empatia, se coloque no lugar do outro, para saber como usar esse conhecimento, aplicando-o não só no individual, mas também no coletivo. Nem mesmo o céu é o limite para você, lugar de menina é onde ela quiser!”.


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