Quando criança, a escritora portuguesa Teolinda Gersão gostava de ler contos tradicionais e os livros da Condessa de Ségur (1799-1874), principalmente os que falavam da Rússia. Gostava das histórias de bruxas e de almas do outro mundo, contadas por mulheres da aldeia. As tradições e as festas religiosas sempre despertaram sua curiosidade. Conheceu muito bem a vida do campo, que a influenciou, embora sempre tenha vivido na cidade. Publicou o primeiro livro (contos) aos 14 anos.
Muito interessada na ciência, gosta de saber mais sobre a origem do mundo, das espécies, os avanços da Medicina. Mas, para ela, a prioridade é a Terra. “Resolvam primeiro a fome no mundo, o problema dos refugiados e das pessoas desalojadas etc. O espaço pode esperar. Já lá está há milhões de anos. As pessoas, não, estão a morrer. Portanto, a prioridade é a Terra”, disse numa entrevista.
Estudou nas universidades de Coimbra, Tübingen e Berlim e foi professora de Literatura Alemã e de Literatura Comparada na Universidade Nova de Lisboa. Viveu três anos na Alemanha, dois no Brasil, em São Paulo, e algum tempo em Moçambique, onde se passa o seu romance de 1997, A Árvore das Palavras.
Passou a publicar de maneira regular aos 41 anos, quando conseguiu se concentrar na escrita, já com a vida familiar e profissional mais tranquilas. É autora de 19 livros (romances e contos) e sua obra já foi traduzida em 20 países. Recebeu alguns dos mais importantes prêmios literários portugueses, entre eles: do Pen Clube, Grande Prêmio de Romance, Grande Prêmio do Conto, da Associação Portuguesa de Escritores, os Prêmios Fernando Namora, Vergílio Ferreira e Prêmio da delegação portuguesa da Association Internationale des Critiques Littéraires (Associação Literária de Críticos Literários). Foi finalista do Prêmio Europeu de Romance Aristeion e, em 2018, recebeu nos Estado Unidos o Albert Marquis Lifetime Achievement Award. Foi escritora residente na Universidade da Califórnia, Berkeley, em 2004.
Alguns dos seus livros foram adaptados ao teatro e ao cinema. Depois de A Cidade de Ulisses e Alice e Outras Mulheres, o seu livro mais recente publicado no Brasil é O Regresso de Júlia Mann a Paraty (Editora Oficina Raquel, Rio de Janeiro, 2022.)
No período entre 2020, quando celebrou seu anivesário de 80 anos, e 2021, quando completou 40 anos de escrita literária, foi tema de diversas homenagens. Escreve segundo as regras gramaticais anteriores ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que procurou criar uma ortografia unificada para o português, a ser usada por todos os países de língua oficial portuguesa.
Escritora de olhar atento, gosta de sair à procura de coisas, pessoas e histórias pelas ruas das cidades. Seu romance A Cidade de Ulisses tem a cidade de Lisboa como personagem central. Tem o hábito de tomar notas em cadernos, numa espécie de diário literário em que regista suas observações. Teolinda se interessa pelo fato de cada um de nós ser “único e irrepetível” e pelo “absurdo do mundo em que vivemos, cheio de conflitos e contradições”.
É considerada uma das mais importantes autoras do período pós-25 de abril, data da Revolução dos Cravos, em 1974, que encerrou uma ditadura de mais de 40 anos em Portugal, época em que os países colonizados pelos portugueses na África começaram a se tornar independentes.