Sisleide Lima - Sissi

O meu nome completo é Sisleide Lima do Amor e, em 2019, fui indicada para o Internacional Hall of Fame, que fica na cidade de Pachuca, no México.

Não é à toa que Sissi tem nome de imperatriz. Considerada pela crítica esportiva o maior nome do futebol feminino antes da rainha Marta, a meia-atacante Sisleide Lima do Amor faz parte das pioneiras do esporte no Brasil. Parece até mentira, mas o futebol foi proibido para as mulheres no nosso país por uma lei que vigorou de 1941 a 1979. A justificativa é que o esporte poderia prejudicar o corpo da mulher, que deveria se preparar apenas para se dedicar aos filhos. Mas Sissi, desde pelo menos os 7 anos, sabia chutar a bola com precisão. E, na falta de uma bola de verdade, começou a fazer seus dribles com a cabeça das bonecas, bolas de meia e de papel. – “Meu pai e meu irmão (que eram jogadores de futebol) falavam que bola não era para menina. Mas sempre fui persistente”, contou a ex-jogadora em entrevista.

Aos 11, a família de Sissi se mudou de sua cidade natal, Esplanada, para Campo Formoso, na Bahia. Lá a futura goleadora conheceu outras meninas que também jogavam futebol e essa turma formou um time só de garotas. Com 13 anos, começou a disputar competições pelo Grêmio da cidade de Senhor do Bonfim. No ano seguinte, deixou a casa dos pais para jogar no Flamengo de Feira de Santana, estreando no Campeonato Baiano. Em 1984, mudou-se para Salvador, para defender o Bahia (time em que também jogou futsal) e, em 1988, foi convocada para fazer parte da primeira seleção brasileira oficial que a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) montou para disputar o Campeonato Experimental da FIFA, na China, em que o Brasil ficou com o terceiro lugar. Em 1995, jogou na primeira Copa do Mundo oficial da história. Foi artilheira da Copa de 1999 e bicampeã sul-americana (1995 e 1998), entre outras conquistas.

Já para o final da década de 1990, a atleta cortou o cabelo bem curto para homenagear uma criança com câncer que tinha sido vítima de bullying por estar carequinha devido aos efeitos colaterais do tratamento. Por causa disso, ouviu várias ofensas, pois cabelos curtos eram considerados “pouco femininos”. “Na época, ninguém sabia por que resolvi raspar a cabeça. Mas foi um absurdo no Brasil. Tive que escutar um monte de coisa. Em São Paulo, até não aceitaram que eu participasse de um campeonato”, conta.

Em 2001, Sissi foi para os Estados Unidos onde atuou na liga profissional e semiprofissional e, desde 2004, dedica-se à formação de jogadoras nas categorias de base. Em 2017, oito anos após aposentar-se, Sissi recebeu reconhecimento internacional ao ser eleita a quinta maior jogadora do século 20 pela Federação Internacional de História e Estatística do Futebol (IFFHS). Nossa imperatriz também foi indicada para fazer parte do Internacional Soccer Hall of Fame (hall da fama internacional do futebol), que fica na cidade de Pachuca, no México.

Se hoje as jogadoras ainda reivindicam mais patrocínio e remuneração equivalente à dos jogadores, no início, as condições eram ainda mais difíceis. “Até vestir roupa do masculino a gente vestiu. Não tínhamos uniforme. Mas se faria tudo de novo? Faria. A gente lutou bastante. Hoje, essa geração tem mais por causa da nossa luta. Mas não foi fácil ouvir tanto comentário a meu respeito. Só que nada disso me fez desistir”, contou Sissi em uma entrevista. Quem nasceu para imperatriz, não perde a majestade.


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