Maria Firmina dos Reis

A escritora Maria Firmina dos Reis nasceu em São Luís do Maranhão, em 11 de março de 1822. Negra, filha de mãe branca e pai negro, foi registrada sob o nome de um pai ilegítimo. Nascida fora do casamento e vivendo num contexto de segregação racial e social, aos 5 anos ficou órfã e teve que se mudar para a vila de São José de Guimarães, na casa de uma tia materna.

O contato da autora com a literatura começou cedo, quando se mudou para a casa dessa tia. Ali, a jovem teve contato com referências culturais e com parentes ligados ao meio cultural, como Sotero dos Reis, um gramático renomado da época. Foi daí e de seu autodidatismo que teria vindo o gosto pelas letras.

Maria Firmina se formou professora e chegou a receber o título de “Mestra Régia”. Aos 25 anos, passou no concurso público para a Cadeira de Instrução Primária na cidade de Guimarães, conforme o biógrafo Nascimento Morais Filho. De acordo com o autor, ao se aposentar, no início da década de 1880, Maria Firmina fundou, em Maçaricó, a primeira escola mista e gratuita do Maranhão e uma das primeiras do país. Infelizmente, devido à sociedade preconceituosa da época, sua existência causou escândalo e as atividades foram suspensas depois de dois anos e meio de atividade, mas a escola seguiu sendo um marco.

Ao ser aprovada no concurso para professora, recusou-se a andar em um palanque desfilando pela cidade de São Luís nas costas de escravos. “Na ocasião, Firmina teria afirmado que escravos não eram bichos para levar pessoas montadas neles”, conta Régia Agostinho da Silva, professora da Universidade Federal do Maranhão e autora do artigo A Mente, Essa Ninguém Pode Escravizar: Maria Firmina dos Reis e a Escrita feita por Mulheres no Maranhão, à reportagem da revista Cult.

A escritora publicou na imprensa local poesia, ficção, crônicas, tendo colaborado com vários jornais literários, como A Verdadeira Marmota, Semanário Maranhense e O Federalista. Ao longo de seus 95 anos, teve forte atividade intelectual, dedicando-se a ler, a escrever, a pesquisar e a ensinar. Maria Firmina recolheu e preservou textos da cultura e da literatura oral e atuou como compositora, sendo autora de um hino em louvor à abolição da escravatura.

Considerada a primeira romancista brasileira e pioneira na crítica antiescravista da nossa literatura, foi autora de Úrsula, de 1859 (primeiro romance publicado por uma mulher negra na América Latina e primeiro romance abolicionista de autoria feminina da língua portuguesa), de Gupeva, de 1861, narrativa de temática indianista, publicada em capítulos na imprensa local, e do conto abolicionista A Escrava. Publicou o livro de poemas Cantos à Beira-Mar, de 1871, que traz textos marcados por uma subjetividade feminina que se vê diante de uma realidade oitocentista patriarcal e escravocrata.

Um texto de 1860 no jornal maranhense A Moderação anunciava o lançamento do romance Úrsula, “original brasileiro”. Nas últimas linhas do texto, a autoria feminina chama a atenção dos leitores, a “exma. Sra. D. Maria Firmina dos Reis, professora pública em Guimarães”. Foi assim que a cidade de São Luís conheceu Maria Firmina dos Reis. Úrsula é visto como um instrumento de crítica à escravidão por tratar personagens escravizados como o que sempre foram: seres humanos.

“Em sua literatura, os escravos são nobres e generosos. Estão em pé de igualdade com os brancos e, quando a autora dá voz a eles, deixa que eles mesmos contem suas tragédias. O que já é um salto imenso em relação a outros textos abolicionistas”, disse a professora Régia Agostinho da Silva na reportagem citada.

A autora morreu em 1917, pobre e cega, no município de Guimarães – MA. Muitos dos documentos de seu arquivo pessoal e não se conhecem imagens suas dignas de credibilidade. Inclusive, circula na internet uma foto da escritora gaúcha Maria Benedita Borman, pseudônimo “Délia”, como se fosse da autora maranhense. A escultura mostrada aqui foi feita a partir de retrato falado colhido pelo biógrafo da autora.


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