Nascida em São Paulo em 1923, Lygia Fagundes Telles passou a infância no interior do estado. Ao voltar a residir com a família na capital, fez o curso fundamental na Escola Caetano de Campos, concluindo os estudos em 1937. No ano seguinte, financiada pelo pai, publicou a coletânea de contos Porões e Sobrados. Cursou, em 1939, o pré-jurídico e a Escola Superior de Educação Física da Universidade de São Paulo (USP) e, depois, a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, também da Universidade de São Paulo (USP), onde se formou.
Sua vocação para a literatura se manifestou ainda na adolescência, incentivada pelo poeta Drummond de Andrade e pelo escritor Érico Verissimo, seus grandes amigos. A autora considera o romance Ciranda de Pedra, de 1954, o marco inicial de suas obras completas, rejeitando os textos da juventude como não representativos. Ainda nos anos 1950, saiu o livro Histórias do Desencontro (1958), que recebeu o Prêmio do Instituto Nacional do Livro. O segundo romance, Verão no Aquário (1963), que venceu o Prêmio Jabuti, saiu no mesmo ano em que já estava divorciada do primeiro marido, o advogado Goffredo Telles Jr., de quem manteve o sobrenome. Postetiormente, casou-se com o crítico de cinema Paulo Emílio Sales Gomes e, em parceria com ele, escreveu o roteiro para o cinema Capitu (1967), baseado em Dom Casmurro, de Machado de Assis.
Já na década de 1970, Lygia publicou alguns de seus livros mais importantes: Antes do Baile Verde (1970), cujo conto que dá título ao livro recebeu o Primeiro Prêmio no Concurso Internacional de Escritoras, na França. Seu romance, As Meninas (1973), recebeu os Prêmios Jabuti, Coelho Neto (da Academia Brasileira de Letras) e Ficção (da Associação Paulista de Críticos de Arte). Seminário dos Ratos (1977) foi premiado pelo PEN Clube do Brasil. Também foram premiados: Filhos Pródigos (1978), que seria republicado com o título de um de seus contos A Estrutura da Bolha de Sabão (1991), A Disciplina do Amor (1980) e As Horas Nuas (1989), entre outros. A década de 1990 é marcada por narrativas curtas e de impacto. Em 2005, Lygia recebeu o Prêmio Camões (2005), distinção maior em língua portuguesa pelo conjunto de obra.
A autora conciliou a carreira literária com o trabalho na Procuradoria do Instituto de Previdência do Estado de São Paulo, cargo que exerceu até a aposentadoria. Foi ainda presidente da Cinemateca Brasileira, fundada por Paulo Emílio Sales Gomes. É membro da Academia Paulista de Letras e da Academia Brasileira de Letras, ocupando a Cadeira 16. Teve seus livros publicados em diversos países: Portugal, França, Estados Unidos, Alemanha, Itália, Holanda, Suécia, Espanha e República Checa, entre outros, com obras adaptadas para tevê, teatro e cinema.
A escritora considera sua obra engajada, ou seja, comprometida com a difícil condição do ser humano em um Brasil com educação e saúde frágeis. Em 1976, quando o Brasil vivia sob regime militar, integrou uma comissão de escritores que foi a Brasília entregar ao Ministro da Justiça o famoso “Manifesto dos Mil”, veemente declaração contra a censura e que foi assinada pelos mais representativos intelectuais do país.
“A criação literária? O escritor pode ser louco, mas não enlouquece o leitor, ao contrário, pode até desviá-lo da loucura. O escritor pode ser corrompido, mas não corrompe. Pode ser solitário e triste e ainda assim vai alimentar o sonho daquele que está na solidão”, disse.