Nascida em Belo Horizonte, Minas Gerais, Lorrane Olivlet, ou Lolivlet, como é mais conhecida, é apaixonada pelo espaço desde os 3 anos. Foi com essa idade que ela ganhou um livro sobre o Sistema Solar, um brinde que havia acompanhado um chocolate comprado por seus pais. “Foi meu primeiro contato com o espaço. Nessa época, eu estava aprendendo a ler e lembro do livro ter me marcado tão profundamente, que eu decorei tudo que estava escrito a cada página”, conta.
A partir daí, nem o céu foi o limite para ela. Lorrane se formou engenheira biomédica e hoje é estudante de engenharia mecânica, e se prepara para tirar licença de piloto de avião.“A parte de explorar outros mundos é algo que me encanta e a engenharia é uma das áreas que torna isso possível”, afirma.
Sempre de olho no céu, Lorrane tornou-se astrônoma amadora. Inscreveu-se no projeto de caça a asteroides da NASA, a agência espacial dos Estados Unidos, o International Astronomical Search Collaboration é um programa de ciência cidadã que conta com a colaboração de cientistas amadores do todo o mundo para fazer descobertas astronômicas. Desde a inscrição, Lorrane passou um longo período analisando as imagens captadas pelo telescópio Pan-STARRS, localizado no Monte Halekala, no Havaí, e percebeu que alguns dos pontos que apareciam eram asteroides. Em sua caçada, ela já descobriu e detectou cerca de 50 asteroides e planeja continuar até se tornar um exemplo mundial no assunto.
Ela criou um grupo voluntário de STEAM (sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática), o InSpace Group, com foco em assuntos ligados ao espaço, em que lidera mais de cem participantes, escreveu seu próprio livro sobre o Sistema Solar, Meu Primeiro Contato Com o Céu – Introdução ao Sistema Solar, e se tornou divulgadora científica e influenciadora digital. O perfil de @lovivlet tem milhares seguidores somados, em redes sociais como Instagram e Kwaii, sendo mais de meio milhão só no Tiktok.
Sabia que é possível ser astronauta com os pés no chão? Lorrane participou como astronauta análoga pelo projeto Habitat Marte, que treina os astronautas que participam de experiências na Terra, estimulando o desenvolvimento de competências relacionadas ao espaço e à sustentabilidade. Com o objetivo de fazer experimentos, ela esteve na única estação no Hemisfério Sul, localizada no Rio Grande do Norte, que imita as condições de Marte e que tem como objetivo fazer com que seja possível habitar o Planeta Vermelho um dia. Em dezembro do ano passado, participou do Space Camp, nos Estados Unidos, local que permite viver experiências parecidas com as dos astronautas. Com base nessas vivências e em seu amor pelo espaço, Lolivlet já deu dezenas de palestras, incluindo várias na Campus Party, evento do qual é embaixadora, além de ter se apresentado em escolas, universidades e outros eventos variados, inspirando outras meninas a se interessarem pela ciência.
“Estudei minha vida inteira em escola pública e, na época, era muito incomum oportunidades relacionadas ao assunto. Sempre guardei no meu coração que se algum dia tivesse alguma oportunidade na área, não iria desperdiçar, já que, a partir da minha experiência pessoal, pude entender o que muitos jovens passam para conseguir de fato participar de projetos ligados a ciências. Vendo essa lacuna que existe na área, tive a ideia de fundar um grupo voluntário que incentiva pessoas em carreiras relacionadas ao espaço (especialmente mulheres), que hoje abrange todo o Brasil e Moçambique (país africano que também tem o português como língua oficial): buscamos incentivar, engajar e abrir oportunidade para gerações em ciências espaciais”, explica.
O espírito explorador de Lorrane sempre contou com o incentivo da família. Minha mãe é professora do ensino fundamental. Então, os livros eram frequentes na minha casa e, além disso, meu pai sempre foi muito criativo. Além do estímulo dos meus pais, tive a oportunidade de fazer parte de grupos de astronomia que fizeram me aproximar cada vez mais do assunto. A internet também me oportunizou conhecer pessoas com o mesmo interesse. Isso fez eu me sentir acolhida e sempre interessada na área”, conclui. Lorrane conta que se orgulha de ter participado com sucesso de diversas competições que avaliam conhecimentos sobre o tema, como a Competição Internacional de Astronomia e Astrofísica e Olimpíada Brasileira de Satélites.
Quando perguntamos quais mulheres a inspiram mais, Lorrane cita a mãe, professora do ciclo básico em escola pública, e todas as meninas e mulheres do grupo InSpace. “Cada uma se esforça ao máximo por ajudar a mudar a sociedade, levando ciências para outras pessoas. Conhecimento para mim está, acima de tudo, relacionado a compartilhar”.
