Lindsay Camila

Ela foi a primeira treinadora campeã da Libertadores Feminina, campeonato de futebol cujo time vencedor é coroado como o melhor da América do Sul. Técnica da Ferroviária, time de Araraquara, no interior de São Paulo, Lindsay Camila nunca tinha disputado uma Libertadores antes, nem como jogadora. No dia 21 de março, a equipe comandada por ela venceu o América de Cali por 2 a 1, no estádio Vélez Sarsfield, em Buenos Aires, na Argentina. “Hoje é o dia mais feliz da minha vida dentro do esporte”, comemorou.

O time de Araraquara, bicampeão da Libertadores, é comandado pela única mulher a conquistar o título de campeã, um marco na história do futebol. Segundo ela, os campeonatos têm oferecido às jogadoras uma quantidade maior de referências femininas. Antes, elas precisavam se espelhar em jogadores, mas hoje a inspiração vem das mulheres.

“As jogadoras querem driblar como Aline Milene [atacante]. Roubar a bola como Nicoly [meia]. Defender como Luciana [goleira]”, declarou a treinadora em entrevista. Lindsay contou que estudou e se preparou muito para chegar à vitória.

O time das Guerreiras Grenás não teve um dos melhores inícios de campeonato: levou uma goleada logo no primeiro jogo: de 4 a 0 contra o Libertad, time do Paraguai. “O grande mérito da conquista foi a força de vontade e atitude do grupo. Elas estavam mentalmente fortes, e isso foi o mais importante”, afirma.

Para Lindsay, dois fatores ajudaram na conquista do título: o fato de o time ter a melhor goleira do Brasil e de as jogadoras terem entendido que “a linha [defesa] funciona conforme o ataque adversário”. Por isso, uma das equipes que mais tomaram gol na primeira fase, soube jogar na hora do mata-mata [fase do campeonato em que o time pode ser eliminado por um mau resultado], resumiu.

Para ela, ser a primeira técnica a conquistar a Libertadores representa uma grande responsabilidade. Lindsay Camila afirma ainda que as mulheres não podem desistir, elas precisam estudar e se formar. “É preciso acreditar. Só minha família e quem está ao meu lado sabe quantas noites passei sem dormir. Aqui na Ferroviária temos coordenadora, supervisora, treinadora de goleiras, captadora, todas mulheres e muito capacitadas”, conta.

Lindsay, que tem 38 anos, vinha se preparando há algum tempo para a função. Ex-zagueira, jogou no Brasil, Espanha, Portugal e França. Encerrou a carreira como jogadora em 2006, após uma lesão no tornozelo. A técnica começou a treinar o time em 18 de janeiro. “Foi uma história de superação mesmo”.

Quando perguntamos que mulher a inspira, Lindsay Camila não pensa duas vezes: “Minha mãe, uma mulher batalhadora que me criou sozinha e que sempre buscou seus objetivos. No âmbito profissional sempre fui fã da Sissi [meia-atacante que jogou pela seleção brasileira de 1988 a 2000 e foi bronze pela Copa do Mundo da Fifa 1999] por ser ela mesma e jogar como ninguém”.

Ela acredita que haverá mais mulheres técnicas nos próximos anos. “Acredito que nós, mulheres e ex-atletas, estamos nos especializando e buscando mais espaço. E para que tenha mais mulheres em equipes femininas precisamos de mais clubes que abram as portas para nós”.

“Sou MUITO fã da Sissi, canhota habilidosa e de personalidade forte. Simone Jatobá [foi volante, atualmente treina a seleção brasileira sub-17], que tem muita determinação e perseverança. Pia [Pia Sundhage, sueca, técnica da seleção brasileira], humilde e multicampeã. Gosto também da Jillian Ellis [treineou a seleção americana de 2014-2019]”, conta.

O que diria para uma menina que sonha hoje ser técnica? “Acredite em você! Não há ninguém e nem nada no mundo que possa te parar ou impedir de realizar seus sonhos, VOCÊ É FORTE E PODE SER O QUE VOCÊ QUISER!”


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