Apaixonada por gastronomia, Jéssica Pereira é considerada a primeira empreendedora com síndrome de Down a se formalizar no Brasil. Em 2017, ela fundou o Bellatucci Café. O empreendimento nasceu no bairro do Cambuci e depois se mudou para Pinheiros, em São Paulo.
Cozinhar sempre foi uma paixão para ela, que, desde pequena, adorava passar a tarde na cozinha ajudando sua mãe no preparo de receitas. Com o tempo, Jéssica foi ganhando mais habilidade e começou a fazer seus próprios pratos.
Depois de participar de algumas oficinas no Instituto Chefs Especiais, o desejo de Jéssica de abrir seu próprio empreendimento se intensificou. “Sempre sonhei em ter meu restaurante. Peguei o dinheiro da minha poupança e, com a ajuda da minha irmã, Priscila Della Bella, e do meu cunhado, Douglas Batetucci, completei o dinheiro para realizar esse sonho”, contou em entrevista.
Com o lema “estamos sempre em treinamento”, o Café não é uma ONG, mas é um negócio familiar, que não conta com recursos financeiros de patrocinadores ou governamentais. Ele é definido como um empreendimento de impacto social. Segundo o site do negócio, a missão principal do empreendimento é a inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. “Queremos mostrar à sociedade que eles podem – aliás, devem – ser protagonistas da própria história.”
Pesquisando sobre o assunto, a família encontrou referências de cafés nos quais trabalham apenas pessoas com síndrome de Down, em outros países, como Estados Unidos, Filipinas, México, Turquia e Itália. Além das duas na cozinha e dos seus sócios, o Bellatucci conta com outros funcionários que, assim como Jéssica, também têm síndrome de Down. “Escolhi alguns amigos para virem trabalhar comigo, que sabem atender bem e que gostam de cozinhar. Quero que todos possam realizar o sonho de trabalhar em um lugar feliz como eu.”
Pai, mãe, irmãos e cunhados ajudam a manter o espaço funcionando e dão todo o apoio que os funcionários com Down precisam no dia a dia. “Chegará o dia em que eles irão comandar sozinhos esse café”, diz a equipe no site do Café.
Além de se dedicar ao seu negócio, Jéssica visita empresas e dá palestras em eventos para compartilhar um pouco da sua história e aprendizado. Em oficinas de gastronomia, ela teve aulas com a chef Reymi Myazi, que lhe ensinou seu prato mais conhecido, o nhoque de mandioquinha. “Não é todo dia que tem nhoque, porque ele dá muito trabalho e eu gosto de fazer todas as etapas sozinha. Até fico cansada de descascar e amassar mandioquinha”, contou a empreendedora numa entrevista. Quem a ajuda na cozinha é a sua mãe, Ivania. “Mas ela é ajudante, eu é que comando tudo”, diz Jéssica.
O Café também abre suas portas para que pessoas com Down exponham suas artes, que possam cantar, tocar música ou dançar. Na inauguração, que atraiu um público de 200 pessoas, uma amiga de Jéssica vendeu seus artesanatos e outro amigo vendeu alguns brigadeiros gourmet.
“Sou muito feliz de mostrar para todo mundo que sou capaz de ter meu próprio café. Quero que todos venham aqui nos conhecer e ver meus amigos e eu trabalhando de verdade”, diz Jéssica.