Jaqueline Conceição

Jaqueline Conceição, professora brasileira, empreendedora e doutoranda em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina, a professora Jaqueline Conceição atua em defesa da representatividade por meio da educação. A pedagoga cresceu na periferia de São Paulo e, já aos 10 anos, envolvia-se com as atividades por mais áreas de lazer, escola, luz, saneamento. “Nasci numa comunidade muito pobre, e isso, num país como o nosso, não é mero detalhe, é a realidade de 70% da população. Minha avó é analfabeta, minha mãe terminou o Ensino Médio quando terminei a faculdade”, conta. Nesse mundo de tantas dores e marcas, ela sempre se lembrava dos versos de uma música de Caetano Veloso: “Gente é pra brilhar, não para morrer de fome”.

Morando hoje em Santa Catarina, ela fundou o Instituto de Pesquisa sobre Questões Étnico Racial e de Gênero Coletivo Di Jeje, com sede em Florianópolis e atuação em outros estados e países. O projeto começou a surgir depois que terminou o mestrado em Educação; História, Política, Sociedade na PUC-SP e da percepção sobre a ausência de intelectuais negros na formação teórica.

O sonho da educadora é inaugurar em 2023 uma faculdade que vai oferecer curso de graduação e pós-graduação. Em março de 2020, Jaqueline inaugurou o espaço Casa Preta, embrião desse projeto, um espaço de formação para professores, estudantes, pesquisadores e pessoas interessadas em discutir e a pensar sobre a educação antirracista e que abriga cursos e encontros de formação sobre as temáticas que o Coletivo Di Jeje desenvolve desde 2014. O coletivo já formou mais de 8 mil alunos em mais de 100 cursos. “Precisamos quebrar as barreiras do racismo, e só existe uma forma de isso acontecer: uma educação crítica e pautada na diversidade cultural e étnica do nosso país’, afirma.

A professora trabalha por uma educação para a diversidade, conversando sobre como escolas e empresas podem criar mecanismos para que se fortaleça não só a presença, mas também o conhecimento sobre o que as pessoas negras fizeram pelo país. “Nós, pessoas negras, somos feitos da beleza de nossos ancestrais, é preciso que as crianças negras cresçam sabendo disso e conhecendo sua origem, seu passado, seu legado de beleza, amor e glória”, diz. “Imagina a diferença que faz para uma criança negra que mora em um contexto de pobreza extrema saber que Machado de Assis, um dos maiores escritores brasileiros, foi negro? Essa é a ideia de representatividade”. Jaqueline lembra que a população branca também é educada para desconhecer a identidade negra do país. “Não aprendemos na escola como as pessoas negras contribuíram historicamente para o crescimento e desenvolvimento do país”.

Quando perguntamos qual professora a inspirou, Jaqueline cita Francisca Pinni, hoje professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e diretora do Instituto Paulo Freire. “Na minha infância e adolescência ela foi minha educadora num projeto de educação popular chamado Arte Na rua, de que participei no bairro onde nasci na periferia de São Paulo, Jardim Damasceno, no distrito da Brasilândia na zona norte. A Fran foi a figura central para que eu me tornasse professora”. Outra figura muito importante foi sua mãe. “Ela criou duas filhas sozinha, sua força e determinação são meu maior exemplo”, diz Jaqueline.

E por que decidiu trabalhar com educação? “Porque a educação me salvou. A periferia de São Paulo nos anos 90 foi um período marcado por muita violência. Ler livros, imaginar um outro mundo, desejar que tudo pudesse ser diferente, me fez perceber que se eu não estudasse eu não cresceria e nada seria diferente. Quando adulta e decidi qual caminho profissional seguir, tinha absoluta certeza de que a educação liberta, emancipa; que a educação possibilita a construção de um mundo novo, um outro lugar onde a gente possa ser livre e feliz. Liberdade é o sonho mais caro que nossos ancestrais africanos plantaram nesta terra chamada Brasil. E a educação é um passaporte para a liberdade. Acredito nisso e vivo para isso e por isso”, conta.


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