Iracema Ferreira, a Rata, foi uma das jogadoras que abriram caminho para que o futebol feminino ganhasse espaço no Brasil. Rata jogou pela seleção no fim da década de 1980 e início de 1990 e ainda hoje luta para que a modalidade tenha cada vez mais reconhecimento. Rata vai acompanhar de perto o Mundial de 2023, que acontece na Austrália e na Nova Zelândia, torcendo muito pelas meninas do Brasil.
"Passei por muita coisa para estar aqui. Fico muito feliz pelo trabalho que é feito com essas meninas de hoje em dia, tenho certeza de que elas vão crescer muito diferentes. Isso que eu estou dizendo aqui agora é um grito, que vem das pioneiras, um grito de liberdade", declarou em entrevista.
Nascida em Bangu, no Rio de Janeiro, a atleta enfrentou muitos obstáculos para ir em busca de seu sonho. Aos 12 anos de idade, sofreu com a reprovação do pai, chegando a ser expulsa de casa. Rata ingressou no futebol profissional em 1981, no Esporte Clube Radar, de Copacabana, time que dominava a modalidade na época e serviu de base para a primeira seleção, no torneio experimental da Fifa, em 1988, evento teste antes da primeira Copa do Mundo oficial, que aconteceria em 1991. O apelido Rata veio do fato de ela atuar como zagueira e ter facilidade para desarmar as adversárias.
Rata é de um tempo em que o futebol feminino era proibido no Brasil. A proibição vigorou de 1941 a 1979. Nessa época, um clube no Rio de Janeiro realizou uma peneira (seleção de jogadoras) para um time de futebol só com mulheres. Os testes aconteceram nas areias de Copacabana e as jogadoras aprovadas passaram a fazer parte do Esporte Clube Radar, que entraria para a história do futebol brasileiro. Apesar de a lei ter deixado de valer em 1979, o preconceito contra o esporte feminino ainda era enorme. O Radar começou com o futebol de areia e depois no campo. As jogadoras foram hexacampeãs brasileiras e cariocas e jogaram diante de um Maracanã lotado. No torneio experimental de 1988, o Brasil ficou em terceiro lugar com o time todo do Radar representando o país em campo.
Jefferson Rodrigues, um dos diretores do documentário Radar, Um time! Uma Nação!, contou ao blog Dibradoras que a história que mais o emocionou nas entrevistas para o filme foi a da Rata. “Ela foi expulsa de casa aos 12 anos por jogar futebol. Ela tem 18 irmãos. Nenhum deles aceitava que ela jogasse. Ela apanhava, sofria, o pai dela não entendia. Aí tentou ir pra São Paulo, se perdeu, morou na rua por muito tempo, até encontrar o Radar. Quando ela tinha 17 anos, precisou voltar para casa para pedir autorização do pai para viajar para fora representando o clube. Ela tinha certeza de que iria apanhar. Mas a primeira coisa que ele fez foi dar um abraço nela. Naquele dia, o pai virou o maior fã que ela já teve e um dia chegou a dizer que ela era o filho que ele sempre sonhou ter. Não consegui conter as lágrimas quando ouvi o depoimento dela”, conta.