Ingrid Silva

Ingrid Silva nasceu no Rio de Janeiro e foi criada em Benfica, bairro da zona norte carioca. Iniciou no balé aos 8 anos no projeto Dançando Para Não Dançar, na Mangueira, e continuou seus estudos na Escola de Dança Maria Olenewa e no Centro de Movimento Deborah Colker, com bolsa integral. Aos 17 anos, foi estagiária do Grupo Corpo. Após o Ensino Médio, ingressou no Centro Universitário da Cidade (Univercidade), mas acabou mudando seus planos quando ganhou uma bolsa de estudos em 2007 para o Dance Theatre of Harlem School, companhia de dança conhecida mundialmente por priorizar dançarinos afrodescendentes em seu casting (elenco) e da qual hoje é a Primeira Bailarina.

Sua mãe, Maureny, é uma de suas maiores incentivadoras. “Ela sempre soube que eu seria bailarina, desde pequena. Que mãe deixaria a filha ir para Nova York aos 18 anos sem falar inglês? Quando surgiu a oportunidade, ela me disse: ‘Vai, minha filha, vai! Esta e uma grande oportunidade’”.

A dança a levou ainda mais longe: foi embaixadora cultural para os Estados Unidos ao dar workshops na Jamaica, em Honduras e em Israel. Ingrid foi convidada para dançar na BrazilFoundation Gala em 2014 no Lincoln Center e foi destaque no filme Maré, Nossa História de Amor (Brasil).

Em 2018, ela foi convidada pelas Nações Unidas para discursar no Social Good Summit. Ela dividiu o palco com Padma Lakshmi (modelo, atriz, apresentadora e escritora indiano-americana) e Achim Steiner (cientista, diplomata e ambientalista germano-brasileiro) para discutir como as mulheres estão liderando o mundo para não deixar ninguém para trás.

Em janeiro de 2021, Ingrid falou na Conferência de Latina Empowerment & Development (empoderamento e desenvolvimento) da Universidade de Harvard e foi reconhecida com o Prêmio Latina Trailblazer (pioneira latina) por suas realizações. A revista Forbes Brasil reconheceu Ingrid em sua lista de “20 Mulheres de Sucesso no Brasil”. Em setembro de 2021, Ingrid lançou o livro de memórias A Sapatilha Que Mudou Meu Mundo pela Editora Globo.

A bailarina ficou conhecida por tingir, com base de rosto no tom de sua pele, as tradicionais sapatilhas cor-de-rosa até que, depois de 11 anos, recebeu as primeiras sapatilhas fabricadas na cor de sua pele. “Uma sensação de dever cumprido, de revolução feita, viva a diversidade no mundo da dança. E que avanço. Demorou, mas chegou! A vitória não é somente minha e sim de muitas futuras bailarinas que virão por aí”, escreveu em seu perfil no Instagram.

Ingrid tem se destacado como uma das grandes vozes de sua geração contra o racismo: ao ganhar a primeira sapatilha no tom de sua pele, em 2019, sua voz ecoou em notícias por todo o mundo. Em 2020, as sapatilhas que costumava pintar passaram a integrar o acervo do Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana Smithsonian, nos Estados Unidos. Em 2017, Ingrid fundou a EmpowHer NY, entidade sem fins lucrativos que atua como um catalisador social. Segundo ela, o objetivo da entidade é estimular o diálogo entre mulheres para que rompam os paradigmas impostos pela sociedade e vivam de acordo com a própria verdade. Em 2020, durante as discussões do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Contam, movimento com origem na comunidade afro-americana, que combate a violência contra as pessoas negras), ela cofundou o Blacks In Ballet – uma rede digital que funciona como uma biblioteca, cujo objetivo é destacar bailarinos negros no mundo da dança e compartilhar suas histórias. “Quero que crianças de origem parecida com a minha tenham em quem se inspirar”, diz ela. “No Brasil, eu não tive essa representatividade crescendo. Desde os 8 anos de idade, em que ingressei na dança, nunca tive alguém que se parecido comigo, uma mulher negra no balé clássico em uma companhia profissional. Foi só depois, de mais velha, que ouvi falar da Mercedes Baptista (primeira negra a fazer parte do corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro)”, contou em entrevista ao Ecoa.

No período em que fez audição, antes de ir pra Nova York em 2008, sentiu que “Foi muito difícil para as pessoas me verem como uma bailarina clássica sendo uma mulher negra. A gente tem ainda a questão do racismo estrutural no Brasil, que é muito pesado, e quando é visto na dança é muito pior. O corpo negro é diverso, a mulher brasileira tem curvas, totalmente diferente do corpo europeu, que foi onde o balé surgiu, mas nada disso me impediu de dançar”, contou ao Donna do GaúchaZH.

Para Ingrid, mais do que profissão, o balé se transformou em ferramenta de aceitação e autoestima. Ela conta que, nos Estados Unidos, parou de alisar os cabelos e fez uma transição capilar que durou um ano. Durante esse tempo, aprendeu a fazer um coque com seu cabelo natural. Mãe de Laura, nascida em dezembro de 2020, Ingrid conta o que deseja ensinar à filha: ser uma menina inteligente, ter empatia e opinião própria e sempre saber a importância de seu lugar na sociedade. Que ela tenha o poder de realizar todos os seus sonhos e que ela tenha perseverança que ela será quem ela quiser no mundo!


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