Glória Maria

Glória Maria Matta da Silva foi pioneira muitas vezes ao longo de sua carreira como jornalista. Foi a primeira repórter a entrar ao vivo e em cores no Jornal Nacional, em 1977, fez a primeira transmissão em HD, em 2007, (em alta definição, numa reportagem sobre a festa do pequi com os indígenas Kamaiurás, no Alto Xingu), mostrou mais de cem países em suas reportagens e testemunhou muitos momentos históricos. Cobriu a guerra das Malvinas (1982), a invasão da embaixada japonesa no Peru por um grupo terrorista (1996), os Jogos Olímpicos de Atlanta (1996) e a Copa do Mundo na França (1998), entre muitos outros.

Nascida no Rio de Janeiro, era filha do alfaiate Cosme Braga da Silva e da dona de casa Edna Alves Matta. Formada pela escola pública, sempre se destacou como estudante. “Aprendi inglês, francês, latim e vencia todos os concursos de redação da escola”, lembrou ao Memória Globo. Durante um período, ela precisou conciliar a faculdade de Jornalismo na PUC-RIO com o emprego de telefonista.

Em 1970, foi levada por uma amiga para ser radioescuta da TV Globo do Rio. Naquele tempo, ainda não havia internet e os radioescutas descobriam o que acontecia na cidade ouvindo as frequências de rádio da polícia e ligando para batalhões e delegacias para saber se havia acontecido alguma ocorrência, como crimes e acidentes.

Sua estreia como repórter aconteceu um ano depois, na cobertura do desabamento do Elevado Paulo de Frontin, no Rio de Janeiro. Glória Maria trabalhou no Jornal Hoje, no RJTV e no Bom Dia Rio, todos programas jornalísticos da TV Globo. Fez a primeira reportagem do jornal da manhã local, há 40 anos, sobre corridas de rua, que viravam frequentes na época. Em 1977, foi a repórter que entrou no ar ao vivo na primeira matéria com imagem colorida do Jornal Nacional, que antes era transmitido em preto e branco, mostrando o movimento de saída de carros do Rio de Janeiro, em um fim de semana. A lâmpada queimou, e Glória teve de improvisar, usando os faróis do carro. O repórter cinematográfico e a repórter ficaram de joelhos, com o farol no rosto de Glória Maria, e a matéria entrou no ar.

Foi apresentadora do programa dominical Fantástico por quase 10 anos, de 1998 a 2007. Ficou conhecida por reportagens sobre outros países, passando pela Europa, África e parte do Oriente, e por entrevistar muitas pessoas famosas, como Michael Jackson, Leonardo Di Caprio e Madonna. Quando foi entrevistar a cantora, disseram a ela que teria apenas 4 minutos. Apostou na sinceridade: “Olha, Madonna, eu tenho quatro minutos, vou errar no inglês, estou assustada, acho que já perdi os quatro minutos.” Conta que a estrela deu a ela o tempo de que precisou.

“Eu sou uma pessoa movida pela curiosidade e pelo susto. Se eu parar para pensar racionalmente, não faço nada. Tenho que perder a racionalidade pra ir, deixar a curiosidade e o medo me levarem, que aí eu faço qualquer coisa”, disse, em uma das muitas entrevistas que deu depois, já famosa. Em outra entrevista, Glória contou sobre a importância do seu pioneirismo na luta contra o racismo. "Racismo é algo que vivi desde sempre e a gente vai aprendendo a se defender", disse em entrevista ao Globo Repórter, em junho de 2020.

Glória Maria foi a primeira pessoa a usar a Lei Afonso Arinos, que punia o racismo, não como crime, mas como contravenção, na época. "Eu fui barrada em um hotel por um gerente que disse que negro não podia entrar, chamei a polícia e levei esse gerente do hotel aos tribunais. Ele foi expulso do Brasil, mas ele se livrou da acusação pagando uma multa ridícula. Porque o racismo, para muita gente, não vale nada, né? Só para quem sofre", contou.

Seu pioneirismo é reconhecido como inspiração para uma geração de mulheres negras. Com a notícia da morte, jornalistas e mulheres negras lembram a importância de seu legado. Em uma reportagem que Glória Maria fez para o Fantástico em Ribeirão Preto (SP), ela se encontrou com uma menina chamada Mirella brincando de repórter. A menina se espanta ao deparar com a jornalista, num momento emocionante, como era característico das reportagens protagonizadas por Glória Maria. Como muitas outras meninas que se espelharam na jornalista, Mirella Archangelo, hoje com 16 anos, segue com o sonho de seguir carreira na comunicação. “Obrigada por tudo”, postou Mirella em seu perfil no Instagram.


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