Duas cientistas brasileiras se destacaram ao decifrar o genoma do coronavírus dois dias após o registro do primeiro caso da doença no Brasil. O genoma corresponde a todas as informações genéticas do vírus que estão codificadas no seu RNA. O sequenciamento permite compreender como ele se espalha entre as pessoas e detectar mutações (alterações no RNA) que possam alterar a evolução da doença, um tipo de gripe. Conhecer o genoma pode ajudar no desenvolvimento de vacinas e de tratamentos. O sequenciamento levou apenas 24 horas comparado à média de 15 dias para esse tipo de trabalho em outros países. O feito foi realizado pela pesquisadora Ester Cerdeira Sabino, professora do Departamento de Moléstias Infecciosas da Faculdade de Medicina da USP e diretora do Instituto de Medicina Tropical da USP, e pela biomédica Jaqueline Goes de Jesus, que faz pós-doutorado sob orientação de Ester. O sequenciamento foi conduzido por uma equipe de pesquisadores coordenada por Jaqueline, em parceria com Claudio Tavares Sacchi, responsável pelo Laboratório Estratégico do Instituto Adolfo Lutz. Ester coordena o Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (Cadde), que estuda em tempo real epidemias de arboviroses, como dengue,zika e chikungunya (doenças provocadas por vírus que têm mosquitos entre seus transmissores). Desde os primeiros casos na Itália, a equipe de Ester Sabino treinou pesquisadores para usar uma tecnologia de sequenciamento conhecida como MinION. Assim que o primeiro surto do vírus foi confirmado na China, em janeiro de 2020, a equipe de cientistas se mobilizou para obter os recursos necessários para sequenciar o vírus quando ele chegasse ao Brasil. No caso do vírus zika, os cientistas só conseguiram traçar sua origem e rota de disseminação nas Américas um ano após a epidemia ter terminado. 'Desta vez, a equipe entrou em ação assim que o primeiro caso foi confirmado', contou Ester.