A curitibana Enedina Alves Marques (1913-1981) foi a primeira mulher a concluir o curso de Engenheira no Paraná e foi a primeira mulher negra a se formar em Engenharia no Brasil. Em plena década de 1940, ela desafiou os padrões acadêmicos e sociais escolhendo uma profissão pouco usual para as mulheres na época, que, até o final da Segunda Guerra Mundial, seguiam majoritariamente a carreira de professoras. Ela foi aluna de engenharia Civil da Faculdade de Engenharia do Paraná (FEP) e recebeu o diploma em 1945, aos 32 anos. Na solenidade de formatura, eram 32 homens e ela.
Os pais de Enedina, Paulo Marques e Virgilia Alves Marques, chegaram a Curitiba em busca de melhores condições de vida vindos do êxodo rural ocorrido após o fim da escravatura, em 1888. Quando seus pais se separaram, a mãe de Enedina, conhecida como dona Duca, passou a trabalhar e morar com a filha e outros filhos meninos na casa do delegado e major republicano Domingos Nascimento. Enedina estudou no mesmo colégio que as filhas do militar. A adolescência de Enedina foi marcada pelo trabalho doméstico casas de famílias. Ela se diplomou professora normalista em 1931 e, entre 1932 e 1935, tornou-se professora da rede pública de ensino em cidades no interior do Paraná, como Rio Negro, São Mateus do Sul, Cerro Azul, Campo Largo.
Entre os anos de 1935 e 1937, ela voltou a Curitiba para cursar o curso Madureza – curso intermediário, que era exigido na época para o magistério (trabalho como professora). Nessa época, ela passou a morar com a família do construtor Mathias Caron, em Juvevê. Mesmo não sendo formalmente empregada, Enedina “pagava” a moradia com serviços domésticos, pois, embora a escravatura tivesse sido abolida, muitas relações de trabalho semelhantes continuavam a existir.
Ainda em 1935, Enedina alugou uma casa em frente ao Colégio Nossa Senhora Menina, ainda em Juvevê, onde passou a dar aulas e montou classes seriadas de alfabetização. Depois disso, a professora Enedina ganhou uma classe na Escola de Linha de Tiro.
Segundo Jorge Luiz Santana em artigo na revista Vernáculo, o retorno de Enedina para trabalhar em casa de família mesmo sendo professora, pode ter sido uma maneira que ela encontrou de alcançar seus objetivos pessoais, como o ingresso no curso superior, pois assim ficava mais perto da faculdade.
Ainda segundo o autor, Enedina passou pelo curso Complementar de Pré-Engenharia entre os anos de 1938 e 1939. Em dezembro de 1939, apresentou requerimento escrito a próprio punho enviado ao diretor da FEP, solicitando inscrição para os exames. Para ingressar no curso, todos tinham de ser aprovados nos exames, demonstrar a documentação exigida e fazer o pagamento que correspondia a quase dois salários mínimos na época. A estudante enfrentou reprovações em algumas disciplinas, mas persistiu. Elfrida Elisabeth Schierman Sickael, sobrinha de Iracema Caron, com quem Enedina conviveu desde 1935 até 1954, relata, em entrevista citada por Luiz Santana, que havia preconceito: “Ela foi reprovada algumas vezes, não sei em qual ano, em qual situação. Ela foi reprovada e dizia: Eu não desisto, eu vou até o fim, um dia eles enjoam da minha cara e me aprovam. E foi o que realmente aconteceu, ela não desistiu não, foi em frente”. A última avaliação aconteceu no dia 15 de dezembro de 1945, 24 horas antes da colação de grau de Engenheira Civil em sessão solene e com a expedição do diploma de Engenheira Civil no dia seguinte.
Em 1946, Enedina foi exonerada da Escola da Linha de Tiro e tornou-se auxiliar de engenharia na Secretaria de Estado de Viação e Obras Públicas do Paraná. No ano seguinte, foi deslocada para trabalhar no Departamento Estadual de Águas e Energia Elétrica.
Nesse período, realizou o seu maior feito como engenheira: a construção da Usina Capivari-Cachoeira. Também trabalhou no Plano Hidrelétrico do estado, além de ter atuado no aproveitamento das águas dos rios Capivari, Cachoeira e Iguaçu.
A engenheira recebeu muitas importantes homenagens. No ano de 2000, foi imortalizada ao lado de outras 53 mulheres pioneiras do Brasil, pelo Memorial à Mulher, na Praça do Soroptismismo, em Curitiba, no bairro Hugo Lange. Em 2006, foi fundado o Instituto de Mulheres Negras Enedina Alves Marques, em Maringá. A casa de Domingos Nascimento Sobrinho, onde Enedina viveu com sua mãe durante a infância, foi desmontada e transferida para o Juvevê para abrigar o Instituto Histórico, Iphan.