Em 2020, pela primeira vez na história duas mulheres conquistam o Prêmio Nobel de Química de maneira conjunta, a francesa Emmanuelle Charpentier e a norte-americana Jennifer A. Doudna. Antes delas, apenas cinco mulheres haviam ganhado a honraria, sendo a última em 2018, a engenheira química norte-americana Frances H. Arnold.
Emmanuelle e Jennifer receberam a honraria pelo desenvolvimento de um sistema de edição genética. As suas pesquisas sobre as “tesouras moleculares” que são capazes de modificar os genes humanos, foram consideradas revolucionárias, contribuindo para o desenvolvimento de novos tratamentos contra o câncer e podendo tornar realidade o sonho de curar doenças genéticas hereditárias (com transmissão de ascendentes para descendentes, como pais para filhos, por meio dos genes).
Segundo a Fundação Nobel, a dupla “descobriu uma das ferramentas mais afiadas de tecnologia do gene: as tesouras genéticas CRISPR/Cas9”. Com elas, pesquisadores podem mudar o DNA de animais, plantas e microrganismos com muita precisão. “Usando as tesouras genéticas CRISPR/Cas9, agora é possível mudar o código da vida em poucas semanas”, de acordo com a Fundação Nobel.
Emmanuelle, de 51 anos, é diretora da Unidade Max Planck para as Ciências Patogênicas de Berlim, na Alemanha. Já Doudna, 56, é professora na Universidade da Califórnia e pesquisadora no Howard Hughes Medical Institute. As duas dividiram o prêmio no valor de 10 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 6,3 milhões).
Emmanuelle Charpentier estudou bioquímica, microbiologia e genética na Universidade Pierre e Marie Curie e obteve seu doutorado em microbiologia por pesquisas realizadas no Instituto Pasteur, ambos em Paris, na França. Ela fez carreira científica em instituições de pesquisa na França, Estados Unidos, Áustria, Suécia e Alemanha, país em que tem sua base hoje.
É interessante lembrar que, entre as mulheres ganhadoras do Nobel de química está justamente polonesa Marie Curie, que dá nome à universidade onde Emmanuelle estudou. A cientista ganhou o prêmio em 1911 e também o de Física em 1903, pela descoberta dos elementos rádio e polônio e pesquisas sobre radiação, respectivamente.
Emmanuelle dedicou a maior parte de sua carreira científica à compreensão dos mecanismos fundamentais das doenças com foco em infecções causadas por bactérias como a listeria (que provoca infecções ao se consumir alimentos contaminados), estafilococos (podem causar infecções de pele, pulmões, coração) e estreptococos (causadoras de faringite, infecções em feridas e na pele, entre outros problemas).
A cientista é reconhecida principalmente por seu trabalho focado na Streptococcus pyogenes (que causa desde faringite até doenças mais graves, como a escarlatina) e outros tipos de bactérias. Suas pesquisas permitiram o desenvolvimento de um sistema de edição do genoma.
Jennifer é professora de bioquímica, biofísica e de biologia estrutural na Universidade da Califórnia e tem entre seus campos de pesquisa o RNA, o vírus da Hepatite C e a edição de genes CRISPR-Cas9, entre outros. Entre os focos da pesquisa atual no laboratório de Jennifer está desenvolver ferramentas de edição de genoma para uso in vitro, em plantas e em mamíferos.