Dulce Cardoso

Como contou numa entrevista, desde miúda (como os portugueses se referem às crianças), Dulce Maria Cardoso queria criar personagens. “É como se tivesse percebido que tenho a possibilidade de ter essas múltiplas pessoas na minha cabeça”.

Uma das mais importantes vozes literárias portuguesas, a escritora nasceu em 1964, em Trás-os-Montes, no norte de Portugal. Ainda bebê, no mesmo ano, mudou-se com a família para Luanda, capital de Angola, país africano colonizado pelos portugueses. A escritora passou a sua infância em Angola e retornou a Portugal em 1975, pouco depois da Revolução dos Cravos, 25 de Abril de 1974 (que encerrou o domínio colonial), e da independência de Angola.

Fez parte das mais de 300 mil pessoas que chegaram a Portugal de maio a novembro de 1975 com praticamente apenas a roupa do corpo. Dulce passou a viver com a família em um hotel na condição de “retornada”. O Retorno é o título de um de seus livros, de 2012. “Eu era miúda, quando tudo aconteceu, e sempre achei estranho os meus pais não se terem preparado para aquilo.” O amor pela literatura a acompanhou, e Dulce diz que os livros que leu na adolescência a salvaram, sendo o cinema outra grande paixão: “Era o prazer pelo qual juntava dinheiro.”

Dulce estudou Direito, trabalhou como advogada e escreveu roteiros para o cinema. Entre os vários prêmios recebidos pela sua obra literária estão o Prêmio da União Europeia para a Literatura 2009 pelo livro Os Meus Sentimentos e o Prêmio do PEN Clube Português 2011 por O Chão dos Pardais. Seu romance O Retorno foi agraciado com o Prêmio Especial da Crítica 2011 e considerado o livro do ano de 2011.

Muitos dos temas de suas obras passam por pessoas excluídas da sociedade. “Talvez por ter sido vítima muito cedo da diferença de tratamento, talvez por ter visto em Angola manifestações de racismo muito grandes... Estou sempre a ver os excluídos. Eu acho que o meu trabalho todo é sobre os excluídos. É sempre sobre os que ficam nas margens, os que não se encaixam, os que são humilhados.”

Um de seus livros mais recentes é uma reunião de crônicas que recebeu o título de Autobiografia Não Autorizada, de 2021. No livro, a romancista portuguesa deixa pistas sobre o que pode ser real nas histórias relatadas. Hoje, às voltas com os cuidados com a mãe já idosa que sofre de demência, a escritora ainda não sabe se essa experiência se transformará em literatura em algum momento. “Hoje a ideia do que é ser velho, da dificuldade de envelhecer e de quanto custa. Tudo isto está aqui a formar camadas. Não sei se será usado… “, disse numa entrevista sobre sua obra.


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