Dandara dos Palmares tem seu nome inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, que fica no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília. A inclusão aconteceu em 2019 e veio 22 anos depois que o marido, Zumbi do Palmares, teve seu nome incluído no mesmo livro oficial.
Dandara e Luiza Mahin, identificada como líder da Revolta dos Malês na Bahia e mãe de Luís Gama, um dos principais abolicionistas do Império, foram as duas primeiras mulheres negras a receberem a honraria. Antes delas, havia apenas duas mulheres na lista, Ana Néri, pioneira da enfermagem no Brasil, e Anita Garibaldi, que participou da Revolução Farroupilha e do processo de unificação da Itália.
Companheira de Zumbi dos Palmares, Dandara foi reconhecida como guerreira e estrategista na defesa do Quilombo dos Palmares. Considerado o maior símbolo da resistência negra no Brasil, o Quilombo dos Palmares era refúgio para os povos que lutavam contra a escravização no século 17. Localizado na Serra da Barriga, em União dos Palmares, no então estado de Pernambuco (hoje majoritariamente área de Alagoas), é atualmente patrimônio internacional.
O Dia Nacional da Consciência Negra é celebrado na data da morte de Zumbi, assassinado em 20 de novembro de 1695. O Quilombo dos Palmares foi tombado pelo Iphan como Patrimônio Histórico, Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico em 1985 e, em 2017, a localidade recebeu o título de Patrimônio Cultural do Mercosul.
No relato no site oficial da Fundação Palmares, Dandara é citada como esposa de Zumbi, com quem teve três filhos: Motumbo, Harmódio e Aristogíton. Segundo a Fundação Palmares, há várias lacunas sobre a história de Dandara, o que inclusive levou alguns pesquisadores a duvidar de sua existência. “Não há registros do local onde nasceu, tampouco da sua ascendência africana. Relatos e lendas levam a crer que nasceu no Brasil e se estabeleceu no Quilombo dos Palmares enquanto criança. Ela foi uma das provas reais de que a mulher não é um sexo frágil. Além dos serviços domésticos, plantava, trabalhava na produção da farinha de mandioca, caçava e lutava capoeira, além de empunhar armas e liderar as falanges femininas do exército negro palmarino. Sempre perseguindo o ideal de liberdade, Dandara não tinha limites quando o que estava em jogo era a segurança do quilombo e a eliminação do inimigo. Ela defendia que a paz em troca de terras no Vale do Cacau, que era a proposta do governo português, seria um passo para a destruição da República de Palmares e a volta à escravidão. Suicidou-se depois de presa, em seis de fevereiro de 1694, para não voltar na condição de escravizada.”, diz o texto.
Para a pesquisadora e professora Ligia Ferreira, diretora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), a falta de registros acontece porque a história contada ainda tem muitos traços de racismo e machismo. “Quem conta história assume uma posição, a minha é de comparar Dandara a Antígona [figura mitológica grega], Tereza de Benguela [líder quilombola], Maria Firmina dos Reis, Carolina Maria de Jesus [escritoras]. Mulheres pouco conhecidas no Brasil, mas que lideram movimentos de luta ou ficcionais importantes”, disse em entrevista.
O fato de a história ser contada pelos vencedores, é mencionado pelo coordenador do Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô, Helcias Pereira, como razão para que a Dandara não apareça nos relatos. No caso de Dandara, disse em entrevista ao portal Universa, não há documentação comprobatória porque os assassinos dos negros rebelados quiseram omitir sua presença. “Existem várias versões, até porque a figura de Dandara é uma figura que foi resgatada pela oralidade do movimento negro, nenhum livro oficial na verdade traz a história dessas mulheres quilombolas, com exceção de Aqualtune (mãe de Ganga Zumba).”
Segundo Pereira, o nome da guerreira negra tem origem em D´Ondara, ou Grande Espírito. “Já existem vários textos escritos na internet e até livretos em cordel sobre ela e outras mulheres quilombolas. Um deles foi lançado em 2017: “Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis”, de Jarid Arraes. Dandara também lembrada pelo cineasta Cacá Diegues no filme Quilombo, de 1984. O nome Dandara, que teve 22 registros na década de 1960, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), chegou a 5.769 em 2000.