Cora Coralina é o pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas. Nascida em 1889, meses antes da Proclamação da República, na cidade de Goiás, antiga Villa Boa de Goyaz, ela é filha de Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto, desembargador nomeado por D. Pedro II, e Jacinta Luísa do Couto Brandão. A menina Ana foi criada às margens do rio Vermelho, em uma casa comprada por sua família no século 19. Acredita-se que a construção seja uma das primeiras da região, datada do século 18.
Ana se tornou Cora, derivado de “coração”, aos 15 anos, nome a que se somaria depois, Coralina. Aos 14, ela já havia começado sua carreira literária, com o conto Tragédia na Roça, que foi publicado no Anuário Histórico e Geográfico do Estado de Goiás. O casamento e os cuidados com os filhos a afastaram de Goiás por 45 anos. Depois de viúva, Cora Coralina iniciou uma nova atividade, a de doceira.
A poeta estudou somente até o equivalente ao segundo ano do atual Ensino Fundamental, e, apesar do início precoce na literatura, ainda adolescente, só foi ter seu primeiro livro, Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais, publicado aos 76 anos. Antes de publicar suas próprias obras, ela vendia livros de outros autores de porta em porta. Em seguida vieram Meu Livro de Cordel, em 1976, e Vintém de Cobre - Meias Confissões de Aninha, de 1983.
Em 1982, recebeu o título de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal de Goiás. No ano seguinte, ganhou concurso Intelectual do Ano do Troféu Juca Pato, tornando-se a primeira mulher a receber a honraria. Em 1984, foi eleita Símbolo da Mulher Trabalhadora Rural pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO).
Após a morte da poeta, em 1985, amigos e parentes se reuniram e criaram a Associação Casa de Cora Coralina, entidade que mantém o Museu Casa de Cora Coralina, que tem entre seus objetivos preservar a memória e divulgar a vida e a obra da autora.
Foi um texto publicado pelo poeta Carlos Drummond de Andrade no Jornal do Brasil, em 1980, que apresentou Cora Coralina ao Brasil. No texto, Drummond dizia: “Na estrada que é Cora Coralina, passam o Brasil velho e o atual, passam as crianças e os miseráveis de hoje. O verso é simples, mas abrange a realidade vária”.
Muitos dos versos mais marcantes de Cora Coralina são autobiográficos e marcados pela simplicidade. Diversos de seus textos originaram livros para crianças, como As Cocadas e O Prato Azul-Pombinho.
A poeta morreu em 10 de abril de 1985, aos 95 anos. Em Vintém de Cobre, escrevera: “O livro amado: o negro das letras se embaralha, / entortam as linhas paralelas. / Dançam as palavras, / a distância se faz em quebra luz. / Deixo de reconhecer rostos amigos, familiares. / Um véu tênue vai se incorporando no campo da retina. / Passam lentamente como ovelhas mansas os vultos conhecidos / que já não reconheço. / É a catarata amortalhando a visão que se faz sombra. / Sinto que cede meu valor de mulher de luta, / e eu me confesso: / estou cansada.”