Clarice Lispector

Certa vez Clarice disse a uma amiga: “A vida sempre superexigiu de mim”. E a amiga respondeu: “Mas lembre-se de que você também superexige da vida”. Considerada uma das maiores escritoras do século 20, Clarice Lispector mudou os rumos da narrativa moderna com uma escrita original, passando por diversos gêneros, do conto ao romance, da crônica ao teatro, da entrevista às cartas e, também, pelas páginas femininas dos jornais, em que falava com as leitoras.

Quando nasceu, em 10 de dezembro de 1920, na Ucrânia, que fazia parte da agora extinta União Soviética, ela se chamava Haia (Vida). Ao chegar ao Brasil, em 1922, ela e seus irmãos tiveram os nomes alterados para versões “mais brasileiras”. A escritora uma vez escreveu: “Um nome para o que eu sou importa muito pouco. Importa o que eu gostaria de ser”. E ela diz que que gostaria de ser uma lutadora. “Quero dizer, uma pessoa que luta pelo bem dos outros. Isso desde pequena eu quis”, conta.

Na época, a família morava em Maceió, Alagoas. Em 1930, já em Recife, Pernambuco, ela escreve sua primeira peça de teatro, “Pobre Menina Rica” e outros textos curtos, que tenta publicar na imprensa local, sem sucesso. Em 1935, muda-se para o Rio de Janeiro, então capital federal, e, em 1938, começa a trabalhar como professora particular de Português e Matemática. No ano seguinte, ela é aprovada em quarto lugar no vestibular para a Faculdade Nacional de Direito e começa a trabalhar como secretária em um escritório de advocacia.

Em 1942, passa a trabalhar como repórter no jornal A Noite, no Rio, começando uma longa carreira de colaboração com a imprensa, e, no ano seguinte, se naturaliza brasileira. Seu primeiro livro, Perto do Coração Selvagem, é publicado em 1943 e é escolhido como o romance do ano pela Fundação Graça Aranha. Nos anos 1960, Clarice passa a publicar crônicas no Jornal do Brasil e, em 1967, vem a público seu primeiro livro para crianças, O Mistério do Coelho Pensante, eleito o melhor livro infantil do ano pela Campanha Nacional da Criança.

Sobre a atividade de escritora, disse: “Sou uma pessoa que pretendeu pôr em palavras um mundo ininteligível e um mundo impalpável. Sobretudo uma pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando consegue em uma frase dizer alguma coisa sobre a vida humana ou animal”.

Casada por muitos anos com um diplomata, com quem teve dois filhos, morou em diversos países. Morreu em 1977, pouco antes de completar 57 anos, em consequência de um câncer, bem antes do surgimento da internet ou das redes sociais, onde volta e meia aparecem frases assinadas com seu nome, algumas retiradas de seus livros e entrevistas, outras que não têm nada a ver com o que ela escreveu. Em seu livro A Hora da Estrela, cuja personagem principal é a imigrante nordestina Macabéa, que chega ao Rio, ela escreve: “Que ninguém se engane, só consigo a simplicidade através de muito trabalho”.


Referências

Downloads

Mais Donas da Rua


Ver todas homenageadas