Em 2015, a cientista brasileira Celina Turchi coordenou estudos que comprovaram a ligação entre a infecção causada pelo vírus Zika (transmitido pelo Aedes aegypti, mesmo mosquito transmissor da dengue) em gestantes e a grande quantidade de bebês nascidos com microcefalia (alteração neurológica rara, que faz com que o tamanho da cabeça do recém-nascido seja menor do que o esperado, podendo resultar em atrasos no desenvolvimento da criança), ocorrida, principalmente, nas regiões Nordeste e Centro-Oeste do país. Até então, não havia, no mundo, nenhuma comprovação científica para esta relação.
A epidemiologista que atua no Recife, na época epicentro da epidemia de Zika, percebeu que precisaria mobilizar esforços de outros pesquisadores no Brasil e no mundo, compartilhando seus achados e pedindo ajuda. Ela foi responsável por formar uma força-tarefa de epidemiologistas, especialistas em doenças infecciosas, pediatras, neurologistas e biólogos especializados em reprodução, para juntos conseguirem um resultado consistente e que pudesse ajudar a compreender a situação.
A cientista disse que o trabalho foi um desafio por não haver testes confiáveis sobre o vírus e nenhum consenso em relação à definição de microcefalia. Durante suas pesquisas, a cientista conta que a equipe entrevistou as mulheres, pós-parto, ainda na maternidade, com equipes de pesquisadoras de campo formadas por mulheres, treinadas para estabelecer um contato cuidadoso e respeitoso. “Durante essa epidemia, as circunstâncias eram não só inusitadas, como dramáticas. Estávamos lidando com uma situação muito peculiar, do ponto de vista da reprodução humana e da ética. O que me impressionou foi o olhar de indagação das mães e a generosidade em participar das pesquisas. Presenciei também equipes de saúde em maternidade e ambulatórios públicos compostas por pediatras, neonatologistas, neuropediatras, radiologistas e profissionais de laboratório dedicadas em prestar o melhor atendimento possível durante a situação de emergência. Foi uma situação de intensa mobilização dos profissionais de saúde, pesquisadores, gestores e da comunidade em geral, frente ao drama humano e ao potencial de expansão do surto para outros locais e países”, contou em entrevista.
Celina foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que, na época da pesquisa, ressaltou a rapidez nas investigações conduzidas no Brasil. Devido a sua atuação ímpar, foi nomeada pela revista Nature como uma das 10 cientistas mais importantes em 2016, e como uma das 100 pessoas mais influentes em 2017 pela revista Time. A OMS lista o vírus Zika entre os agentes infecciosos prioritários para pesquisas pelo seu potencial de transmissão, de surtos e de gravidade dos casos de síndrome congênita da Zika.