Gloria Jean Watkins nasceu em 1952, em Hopkinsville, no Estado de Kentucky, no sul dos Estados Unidos, numa época em que leis racistas separavam os espaços que podiam ser frequentados por pessoas brancas e negras. Seu pai era zelador e sua mãe, dona de casa. Gloria foi criada com cinco irmãs e um irmão. A escolha do pseudônimo bell hooks é uma homenagem ao legado de sua bisavó Bell Blair Hooks, conhecida pela coragem de dizer a verdade, já que a bisneta também fazia questão de expressar suas ideias. Ela escolheu grafar seu nome com letras minúsculas porque queria destacar o conteúdo da sua escrita e não a sua pessoa. Sofreu críticas durante a sua carreira, por não se submeter aos padrões tradicionais da academia, porque quis tornar o seu trabalho acessível para todos. Tinha um grande interesse pela educação, principalmente pela educação das pessoas negras. Hoje, é considerada uma das mais importantes intelectuais da atualidade e, após sua morte, em 2021, recebeu as mais variadas homenagens.
Foi na escola, ainda segregada por conta da legislação racista da época, que fazia com que crianças negras estudassem separadas das brancas, que bell hooks encontrou professoras negras que valorizavam sua inteligência. A autora conta em seus livros que em sua trajetória escolar teve uma formação que incentivava o intelecto e o compromisso com a justiça social, especialmente a igualdade racial. “Naquela época, ir à escola era pura alegria. Eu adorava ser aluna. Adorava aprender”, escreveu.
Durante o equivalente ao ensino médio, a escola deixou de ser segregada, mas bell sofria com o racismo dentro do espaço escolar. “Durante a profunda tristeza dos meus anos de adolescente, era frequente eu me ver em uma aula de História, no fim da tarde, chorando silenciosamente. Ao meu redor, estudantes e professores fingiam não notar. O ensino médio havia sido dessegregado recentemente. […] Não era de se espantar, então, que, em uma sala de aula só de pessoas brancas, com apenas dois estudantes negros, ninguém quisesse reconhecer meus sentimentos, meu sofrimento”, escreveu. Em 1970, com 18 anos, ela entrou na Universidade de Stanford, na Califórnia, para estudar Língua Inglesa. No espaço universitário, enfrentou a discriminação de ser minoria numa instituição onde tanto os professores quanto os alunos eram em sua maioria brancos.
Formou-se em Literatura Inglesa na Universidade de Stanford, fez mestrado na Universidade de Wisconsin e doutorado na Universidade da Califórnia. É autora de mais de 40 livros de vários gêneros como: crítica cultural, teoria, memórias, poesia e infantil. Entre os temas tratados por ela estão: feminismo, racismo, cultura, amor e espiritualidade.
Seu primeiro livro teórico, Ain’t I A Woman? (E eu não sou uma mulher? Mulheres negras e o feminismo), que começou a escrever durante a faculdade, foi publicado em 1981. O título do livro recupera a pergunta da abolicionista e oradora Sojourner Truth que, no século 19, defendeu que fosse dado o direito de voto a todas as mulheres, incluindo as negras, já que na época a discussão incluía apenas as mulheres brancas e os homens negros.
No Brasil, ganhou destaque por meio de obras traduzidas como Olhares negros: raça e representação, Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade e O feminismo é para todo mundo.
Em 1999, publicou o livro infantil Meu Crespo é de Rainha, apresentando diferentes penteados e cortes de cabelo de forma positiva, alegre e elogiosa, para que as meninas se orgulhem de quem são e de seu cabelo 'macio como algodão' e 'gostoso de brincar'.
Foi premiada com o The American Book Award, um dos prêmios literários de maior prestígio dos Estados Unidos. Entre suas maiores influências, além de Martin Luther King, Malcom X e Eric Fromm, estão as teorias de educação do brasileiro Paulo Freire.