Aretha Duarte

Aretha Duarte é montanhista, ativista ambiental e empreendedora social.

Só 25 brasileiros haviam atingido o cume do Monte Everest, a montanha mais alta do planeta, com 8.848 metros de altitude, na Cordilheira do Himalaia, na fronteira da China com o Nepal. Entre eles, apenas cinco mulheres. Nenhuma pessoa negra. Esta era a realidade até o dia 23 de maio deste ano (2021), quando, por volta de 10h24 (horário nepalês), 1h39 (horário de Brasília), Aretha Duarte se tornou a primeira mulher negra latino-americana da história a chegar ao lugar mais alto do mundo.

Antes do topo do mundo, Aretha já havia estado no Pequeno Alpamayo (Bolívia), Campo Base do Everest (Nepal), Vulcões (Equador), Kilimanjaro (Tanzânia), Elbrus (Rússia), Monte Roraima (Venezuela) e cinco vezes no topo do Aconcágua (Argentina). Esta dona da rua sabe que seus sonhos são grandes, mas que a transformação que eles promovem são ainda maiores. “Meu sonho grande nunca foi chegar ao topo do Everest. Meu sonho grande é garantir que transformações socioambientais e oportunidades cheguem às periferias, para que todos tenham o direito e as possibilidades de escolherem melhores caminhos para ajudar suas vidas e suas famílias.”

Aretha nasceu e cresceu no Jardim Capivari, na periferia da cidade de Campinas, no interior de São Paulo. Foi a primeira da família a ingressar no ensino superior. E foi durante a faculdade de Educação Física que foi apresentada ao montanhismo. “Conheci a modalidade aos 20 anos, quando um professor da PUC de Campinas quis apresentar esportes outdoors para os alunos”, conta em entrevista. Ficou apaixonada e pensou: “Como nunca tinha ouvido falar neste tipo de esporte antes?” Desde 2011, Aretha trabalha como guia de escalada e já havia levado clientes a algumas das maiores montanhas do mundo. “Quando eu vi uma foto dessa montanha, eu falei: eu quero estar nesse lugar, eu posso estar nesse lugar”, contou em entrevista ao Fantástico.

Por um ano e meio, Aretha captou recursos para a expedição, um sonho de quase R$ 400 mil. A montanhista arrecadou dinheiro para a expedição por meio de reciclagem. Ela, que foi catadora de resíduos, como metal, plástico, papel, papelão, aço, ferro, cobre e vidro, ao longo da campanha, iniciada em março de 2020, juntou mais de 130 toneladas de resíduos destinados à reciclagem, reuniu mais de 600 brinquedos usados e higienizados que foram distribuídos no dia de Natal a crianças da periferia de Campinas e mais de 1.200 livros, destinados a uma biblioteca comunitária. Também realizou uma campanha de arrecadação na internet, participou do quadro “The Wall”, no programa Caldeirão do Huck, da Rede Globo, e, já na reta final, passou a ter o patrocínio de sete empresas.

“A principal diferença foi o volume. Na infância, eu queria comprar um par de patins, na adolescência foi uma máquina de lavar. Desta vez, o objetivo era maior, e muita gente se engajou. Acredito que esse é um dos caminhos para realizar o que acredito”, conta Aretha. Ao fim, a brasileira arrecadou a quantia de R$ 400 mil que precisava e viajou a Katmandu, capital do Nepal, em 1º de abril de 2021.

“Minha sensação ao chegar ao cume do Everest foi de subir de nível. É difícil precisar tudo o que senti, pois a emoção foi forte. Mas pensei sobre a minha realização e o quanto ela pode servir de inspiração para as pessoas. As mulheres negras, especificamente, têm de saber disso. Elas não precisam ficar focadas só no sonho grande, mas no próximo passo, e, depois, no passo seguinte, e no outro, com constância e regularidade, até chegar ao objetivo grande. Todas as mulheres podem”, afirmou ao Estadão.

Seu maior sonho agora é uma escola de escalada para jovens da periferia de Campinas. “Justamente para eles conhecerem esse esporte, que é algo ainda distante, não é um esporte tão popular ainda. Daí, podem passar a entender o que é esse esporte, as vertentes, as possibilidades de realização e, quem sabe, se tornarem talentos que nos representem nas Olimpíadas”, afirma. A escalada estreou nas Olimpíadas em Tóquio e já está confirmada para a edição de 2024 dos Jogos, em Paris.


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