Angela Olinto

Quando pensamos em ciência, muitas vezes nos lembramos de nomes como o do britânico Charles Darwin (1809-1882), criador da Teoria da Evolução das Espécies, ou do alemão Albert Einstein (1879-1955), conhecido pela Teoria da Relatividade. Pois agora também podemos lembrar da física de astropartículas brasileira Angela Villela Olinto. Professora da Universidade de Chicago e reitora da Divisão de Ciências Físicas e Matemáticas, ela se tornou membro da Academia Americana de Artes e Ciências e, na mesma semana, integrou a Academia Nacional de Ciências, que, em 2021, elegeu 120 membros, sendo 59 mulheres – o maior número já eleito em um único ano. Esses títulos a colocam ao lado de grandes nomes da ciência, entre eles Einstein e Darwin.

Em 1978, Angela iniciou a graduação em Física aos 16 anos na PUC-Rio, formando-se em 1981, quando foi para o célebre MIT (Massachusetts Institute of Technology), em Cambridge, MA, nos Estados Unidos, para o doutorado em física teórica de partículas (ramo entre a física de partículas elementares e a astrofísica, que estuda as partículas e radiações de origem cósmica e suas interações no ambiente em que são produzidas, por onde se propagam e onde são observadas).

Se você já tem idade para assistir ao seriado The Big Bang Theory, talvez conheça alguns dos termos comuns no dia a dia da cientista. Ao longo da carreira, Angela fez contribuições teóricas e experimentais sobre astropartículas, incluindo pesquisas sobre o estudo da estrutura das estrelas de nêutrons (um dos possíveis estágios finais da vida de uma estrela), teoria inflacionária (parte da Teoria do Big Bang, que explica a origem do universo: durante o período inflacionário, o tamanho do Universo dobrou cerca de 90 vezes e, no fim dessa expansão acelerada, tornou-se mais frio e menos denso, sendo que, nesse período, surgiram forças fundamentais da natureza, além do tempo e do espaço), origem e evolução dos campos magnéticos cósmicos, natureza da matéria escura (astrofísicos notaram que as galáxias parecem ter muito mais massa do que se pode observar com ajuda do telescópio, e que essa massa extra, que seria cinco vezes em relação ao que podemos enxergar, é invisível e exerce gravidade – aquela força que atrai as coisas para a Terra e não permite que a gente saia flutuando) e a origem das partículas cósmicas de maior energia: raios cósmicos, raios gama e neutrinos.

Com o apoio da NASA, a agência espacial dos Estados Unidos, Angela é responsável pela pesquisa de diversos projetos, entre eles o Extreme Universe Space Observatory on a Super Pressure Balloon, ou EUSO-SPB, um balão de alta pressão que viaja numa altitude de 33 km e uma futura missão espacial chamada POEMMA, ou Probe Of Extreme Multi-Messenger Astrophysics, que estudam os raios cósmicos de alta energia e os neutrinos astrofísicos que vêm de galáxias distantes.

“É uma imensa honra ser membro de uma destas duas instituições históricas, as academias mais importantes na ciência nos Estados Unidos. Ser eleita para as duas academias em menos de uma semana é muito emocionante! Duas surpresas sensacionais! Me sinto muito feliz por ter podido seguir a carreira que escolhi. Ainda temos um longo caminho pela frente, pois cada resposta nos guia à próxima pergunta. Estamos construindo um telescópio, o EUSO-SPB, para voar em 2023, e projetando uma missão espacial, a POEMMA, para o final da década. Sou privilegiada por ter seguido perguntas inspiradoras sobre o nosso universo e ter construído parcerias e colaborações brilhantes no caminho. É uma grande alegria ser reconhecida pelos meus colegas cientistas, especialmente num ano tão desafiador.”

Fundada em 1780, a Academia Americana de Artes e Ciências homenageia e reúne líderes de todos os campos da atividade para ressaltar novas ideias, abordar questões de importância nacional e mundial e trabalhar em conjunto. Seus estudos ajudam na pesquisa e análise nos setores da política, ciência, tecnologia, segurança global, assuntos internacionais, política social, educação e ciências humanas.

Já a Academia Nacional de Ciências é uma instituição privada sem fins lucrativos, que foi estabelecida sob uma carta do Congresso assinada pelo presidente norte-americano Abraham Lincoln, em 1863. Ela reconhece a conquista em ciência por meio de uma eleição do conselho, e – ao lado da Academia Nacional de Engenharia e da Academia Nacional de Medicina – fornece conselhos e pesquisas sobre ciência, engenharia e saúde para o governo federal e outras organizações.

Na faculdade, Angela diz que se inspira nas suas professoras e as grandes cientistas históricas: Marie Curie (primeira cientista a ganhar dois Prêmios Nobel, de física e química), Emmy Noether (matemática alemã, conhecida pelas suas contribuições aos campos de física teórica e álgebra abstrata) e Émilie du Châtelet que, ainda no século 18, atuou nos campos da física e da matemática. Na sua carreira acadêmica, sua inspiração são suas alunas e algumas colegas.

Ela recomenda incentivar todos, meninas e meninos, a se interessar pelas áreas de STEM (sigla em inglês para Ciências, Tecnologia, Engenharias e Matemática). “Se quiserem ser astrofísicos ou artistas mais tarde na vida, é uma escolha pessoal. Mas acho que artista que sabe matemática e física, podem ter mais dimensões na própria arte! Também acho que pessoas de STEM deveriam aprender mais da área de humanas. Vale a pena aprender sempre mais!”

Para as meninas que sonham em ser astrofísicas, ela tem alguns conselhos: “Estude matemática desde cedo, física, computação e astronomia assim que puder, e leia bastante sobre todas as áreas. E se disserem que não são assuntos para mulher, ignore!”


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